Os perigos da deflação, os mais prejudicados e o papel das autoridades
1. O que é a deflação?
É uma descida persistente (de vários meses consecutivos) dos preços que se regista na generalidade dos produtos e leva à criação de expectativas de uma inflação negativa a médio prazo.
2. Por que é perigosa?
Com a expectativa de descida dos preços, as empresas e os particulares poupam mais e investem e consomem menos, prolongando a contracção da actividade económica e alimentando novas descidas de preços. Como as autoridades têm poucos meios para contrariar este ciclo vicioso, o problema pode prolongar-se por muitos anos, como aconteceu durante a Grande Depressão e na crise japonesa dos anos 90.
3. Quem é mais prejudicado?
Potencialmente, todos sofrem, porque se entra num período de estagnação económica, com desemprego elevado e sem subidas de rendimento que permitam o aproveitamento dos preços baixos. Mas os mais afectados são aqueles que estão endividados, já que a sua dívida, em termos reais, pode agravar-se. Quem tem empréstimos a taxa fixa fica numa situação particularmente penalizadora.
4. O que podem fazer as autoridades?
Os bancos centrais podem baixar as taxas de juro, para reanimarem o consumo e o investimento, com acesso ao crédito. No entanto, mesmo que coloquem as taxas de juro nominais a zero, elas ficam sempre acima da inflação. É por isso que as autoridades monetárias aplicam as chamadas medidas quantitativas, que consistem na emissão de dinheiro que é emprestado de forma mais directa às empresas e particulares. Os bancos centrais estão já nesta fase. Do lado dos governos, o combate à deflação passa pela introdução de estímulos orçamentais, seja por aumento da despesa e investimento público, seja pela redução de impostos, na esperança de que o consumo e investimento privado subam.
5. É uma ameaça só em Portugal?
Não. Todos os países do chamado mundo desenvolvido correm este risco. Nos EUA, a taxa de inflação homóloga já está perto de zero e, na Europa, países como a Alemanha, a Espanha ou a Irlanda mostram-se especialmente vulneráveis. No Japão, que só há três anos conseguiu sair de uma década de deflação, os sinais de perigo são dos mais intensos.